terça-feira, 28 de outubro de 2008

longas e desenhos animados brasileiros invadem a tv


Fonte: Folha de São Paulo, 02/11/2003

Yes, nós temos desenhos. Depois de décadas importando os chamados "enlatados" estrangeiros, animadores brasileiros começam a produzir suas próprias séries para a TV, a se associar e a esboçar os primeiros traços de uma indústria nacional de animação.

O cenário mudou. Foram-se os tempos dos caríssimos acetatos, das mesas de luz e dos heróicos animadores de "uma mão só". Com o computador, os custos e prazos de produção caíram vertiginosamente e, muitas vezes, uma idéia na cabeça e um scanner em casa são mais do que suficientes para ver o projeto ganhar vida.

Dessa forma nasceu, por exemplo, a "Mega Liga MTV de VJs Paladinos", criação de Marco Antonio Pavão, 24, que vem sendo exibida em episódios de dois a quatro minutos. Em 2004, o desenho animado, que tem os próprios funcionários da emissora como protagonistas, pode ganhar série fixa com episódios de meia hora.

"Estou virando animador agora", confessa Pavão, que até então só havia trabalhado com ilustrações. Autodidata, continua tentando dar conta dos projetos futuros na MTV "sem contratar 40 pessoas para fazer o trabalho".

No eixo São Paulo-Rio Grande do Sul-Florianópolis também já correm as primeiras aventuras de "Anabel", série infantil de "terrir" criada pela produtora Digital Films & Toons, de Sérgio Martinelli, 46. Com dois dos 13 episódios já finalizados, "Anabel" foi aprovada nas leis de incentivo do Ministério da Cultura e no projeto PIC-TV, da TV Cultura.

"Séries são um produto diferenciado. Existe um mercado maravilhoso para elas. As TVs têm que preencher suas 24 horas de programação com algo diferente e novo", afirma Martinelli, que, além de oferecer a série para os canais de TV paga e aberta, já tem garantida a exibição da série animada na Cultura. Um longa de "Anabel" e "Holy Avengers", o primeiro anime --desenho japonês-- 100% nacional, também já estão no horizonte da produtora.

Cenarista de "Anabel" e já preparando o seu primeiro longa, "Zelito", o animador gaúcho Eloar Guazzelli, 41, emenda: "A gente precisa assumir que a animação brasileira deixou de ser uma coisa "engraçadinha". Não estamos mais vivendo aquela fase tupiniquim, ingênua".

Animar não basta, organizar-se é preciso. Com a criação da Associação Brasileira de Cinema de Animação, neste ano, o setor pretende levantar a voz em Brasília.

"Faz três anos que a produção de animação em curtas no Brasil ultrapassou a produção de curtas com atores", defende César Coelho, 43, sócio da produtora carioca Campo 4 e co-organizador do festival Anima Mundi. "Há uma revolução silenciosa acontecendo no cinema brasileiro."

Entre as reivindicações da "classe", estão a criação de linhas de crédito exclusivas para animação, a utilização do Condecine (prevê que TVs a cabo que invistam em co-produções nacionais abatam 3% do imposto devido) e a aprovação do Projeto de Lei do deputado Vicentinho (PT), estabelecendo cotas progressivas para desenhos nacionais nas TVs.

Produção existe, políticas estão a caminho, falta portanto encarar um dos principais tabus que recaem sobre a animação no país: a (falta de) distribuição.

"O mais difícil é vencer a barreira das animações estrangeiras, que chegam aqui praticamente de graça para os canais de televisão", afirma Denise Garcia, 35, sócia da produtora carioca Toscographics.

Lais Dias, 39, dos Estúdios Mega, tem rodado o mundo com um piloto da série "X-Tremers" debaixo do braço. "Estamos apenas no começo do nosso segundo desafio, a transformação disso em um negócio. Formatamos e avaliamos o produto, retorno de investimento e possibilidades de licenciamento. Isso envolveu muitos "players" que não existiam no Brasil ou não estavam familiarizados com os processos."

"Players", negócios, linhas de crédito, exportação. Parece que finalmente os planos da animação nacional estão prestes a sair do papel. Literalmente.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u38453.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário